Um conto e uma ponta

Eduardo Dalcin observador social de veneno na língua e um desequilíbrio agradável nas palavras. Vou sempre por lá, afiar meu juizo. Já a mineira Alê tem do sensível e divertido na letra rápida e produtiva.
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Coloco na roda: Eduardo Dalcin observando e Alê Quites em Namastê

POESIA IN VITRO
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Cientistas sintetizam em laboratório, depois de vários meses, a primeira poesia artificial. “A operação foi um sucesso. Estamos todos muito orgulhosos. Esperamos a partir dessa, sintetizar muitas outras para melhorar a vida das pessoas.”, afirma um deles. A poesia, de única estrofe e decassílaba, veio a público da seguinte forma:
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Sinte onda magnética vindo lá,
Onde amor nunca vai encontrar.
Ondas elétricas vêm e vão já.
Tuas forças conseguirão salvar
Inércia no meu coração será,
Pois este é meu jeito de te amar.
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Mesmo com a repercussão ruim, um dos cientistas continua otimista: “Apesar de termos errado na métrica no último verso, creio que estamos no caminho certo. Faltou paixão e amor também, mas creio que se continuarmos os estudos, conseguiremos fazer amor, paixão, e outros sentimentos artificialmente em breve.”
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Observador


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Sim! Sou mesmo a pequena dos cabelos desalinhados que toma leite com cerol no café da manhã. Preciso manter a língua afiada como rabiola de pipa, assim eu ganho o céu sem perigo de ser tosada. Eu não vou sentir vergonha do meu jeito aquariano de perceber a vida. Pode achar que somos grandes comparsas para todas as causas perdidas, mas não vou sentir vergonha dos meus vexames, das minhas expressões de medo, raiva ou felicidade.
Como vou te explicar que eu me encontro nas falhas, nas dúvidas, nos berros, nos momentos de solidão, nas altas doses de álcool ou beijando uma boca desconhecida? Não preciso mentir, serei transparente, de fato! Eu sou terrível, mas sou real. E toda a leveza dos meus toques, o sorriso persistente, os bilhetinhos deixados, os selinhos molhados, os olhares de desejo, as mordidinhas no canto da boca, as gargalhas inusitadas, a inexplicável química feita da união das nossas peles, as frases que digo dormindo, as viagens que faço em cada detalhe do seu corpo, fazem parte do pacote. Não vivo de mentiras, sou o mistério. Não preciso, contudo, de redenção. Sou tudo isso e muito mais com e por prazer. Vai encarar?
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