Juliana Caribé

minha primeira leitora/blogueira. Banhada de Clarice Linspector, a bailarina Juliana Caribé vislumbra universo desequilibrado vertendo harmonia. Fotógrafa de fina sensibilidade, enfeita teu feito com genialidade.

Coloco na roda: Juliana Caribé e seu Quintal de Cores

com



Carta-não-entregue



Eu escrevi tudo num bilhete, e não o entreguei. Não porque não quisesse, mas porque me foi negado dá-lo.

Na verdade, era uma carta. Grande, cheia de pontuações: vírgulas marcando as pausas para enxugar as lágrimas, reticências para rechear de pensamentos aquelas linhas; havia exclamações para relembrar os sorrisos e os olhares de lua e interrogações para dizer que ainda não era o fim. Não precisava ser.

Decorei o papel com flores e colibris e escrevi, com a letra mais bonita que eu consegui fazer, cada um dos sentimentos que inundavam meu peito. Dobrei cuidadosamente a folha, coloquei-a no envelope. “Com amor”, risquei do lado de fora. Quis entregá-la. Não quis recebê-la.

– Fala o que está escrito.

– Leia… Escrevi com tanto cuidado.

– Não.

Guardei a carta na bolsa, as palavras no coração, as lágrimas na garganta. E fui embora.

Sem carta, sem bilhete, sem eu te amo, sem adeus.

“Estava tudo em mim ainda.”