O filantropo

Todos os dias comia rápido em muquifos pequenos no Largo da Santa Rita. Na maioria das vezes, eram sujos. Era uma escolha aleatória, contanto que não tivessem degraus, já que se recusava a subi-los para…
gastar dinheiro. E havia vários desses botecos naquele “redondão”. Tinha o da mulher evangélica, concorrendo diretamente com um jovem tido arrogante pois escolheu encrustar, ali na poética boca do lixo, uma pastelaria azulejada e limpinha, meio fora de contexto; também abria portas até aos domingos o casal coreano da Rua Santa Cruz; além da Pastelaria Chinesa gerenciada à mãos de ferro e faca por um velho careca. Isso só para citar os mais antigos, mas hoje já são muitos. Pra falar a verdade era uma seleção alheia aos bons costumes. O lugar até fedia, nalgumas tardes, mas ele fazia dali seu antro particular, à sombra, onde tomava as direções mais importantes de sua vida. Era bom estar ali, ainda que por alguns minutos, um tanto suficientes para escolher a quem doaria seu próximo milhão.


*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, no jornal Taperá, em 16/11/2013.