O buquê de algodão doce

Ele curvava bem os ombros para a frente e afastava os joelhos, produzindo um caminhar de “perna de alicate” que o fizera portador de sua fama e de lombalgia crônica. Girava o espeto dentro da máquina e assistia, como se o sempre fosse a primeira vez, o açúcar cristal se transformando nos fios do algodão que derrete dentro da boca. De vez em quando se ajoelhava em frente à um transeunte aleatório a fim de oferecer o buquê doce e, com uma mímica refinada, convidava para…
conhecer as ofertas dentro da loja. Havia apurado de forma tão profissional sua gentileza que fazia sorrir até o mais amargo dos homens. Também conhecido pela maquiagem impecável e o apito que substituía suas palavras, quando desmontava o personagem que encarnava por alguns trocados, a única coisa que adoçava sua vida era um sorriso verdadeiro ofertado pela balconista da padaria na esquina de sua casa. Ele não sabia tudo sobre ela. Ela não queria saber de um palhaço. Certo dia recebeu um de seus buquês, virou fã e esposa.

*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto”, do jornal Taperá, em 31/08/2013.