Agora encostada na parede, a Vassoura, que tem a cabeça no chão, estava em igual condição, portanto, ao Chinelo. Mas o fitava com desdém. “Boa tarde, Sr. Chinelo, venho de varrer a casa toda. Ufa! Não é fácil deixar a coisa limpa”, disse olhando para o horizonte, como se ele tivesse interesse em sua lida. E continuou, pedante: “É, pelas minhas cerdas já se passaram de tudo; fotos rasgadas, brinquedos velhos, os primeiros fios de cabelo branco, copos quebrados, uísque doze anos… Se não fosse eu, esse povo aqui teria sérios problemas respiratórios. Sem contar as mulheres e crianças, que protejo frequentemente espantando baratas, lagartixas e, dia desses, até um sapo!” Fez uma pausa, olhou debochada para ele e complementou: “Uma pena que o senhor não sirva pra tanto e seja tão humilhado”. A Vassoura ia continuar quando foi interrompida pelo Chinelo, que disse mansamente: “Engano da senhora, mas vou preferir me ater ao fato de que vassouras só saem pra passear em historinhas com bruxas”.
*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, do jornal Taperá, em 13 de julho de 2013.