Nem vou me ater no sucesso de tantas motivações populares em que, atingindo a plenitude da consciência cidadã, os indivíduos se apropriam de seus espaços, como deve ser.
A lei existe para dirimir todos os interesses e nortear uma sociedade mais próxima da justiça, compreendida aqui como a espada que nivela todos os seres humanos em prol da vivência coletiva. Mas em diversos momentos da história da humanidade foi necessário um “choque de realidade” em todos os indivíduos e, assim, nasceram as grandes transformações do planeta, como a poética Revolução Francesa, por exemplo.
Agora, desde o junho romântico da Revolta da Salada, tudo está diferente no Brasil. Poucas pessoas perceberam a vulnerabilidade de nosso castelo de areia. Estão usando os rostos cobertos nas ruas simplesmente por não confiarem nesse modelo de “apelo popular” em que manifestante pode ser enquadrado como “vândalo”, por exemplo. E a vítima mais emblemática e recente desse complexo processo é o sociólogo Paulo Baía, sequestrado nessa semana.
As cidades são de seus Povos e devem, portanto, seguir seus interesses. Se for interesse da maioria o resgate das ferrovias, redução drástica dos automóveis e mais ônibus; assim deve ser feito, em detrimento de outras coisas que o Povo hierarquizar. Naturalmente, escolhemos pessoas a quem confiamos a administração de nossa vida, não nossos opressores. O Poder Executivo e Legislativo é eleito para trabalhar pelo Povo, não contra.
A relação é simples: são empregados do Povo e devem ser tratados como tal. Quando uma empresa tem um colaborador com baixa produtividade ou que prejudica os rendimentos criando picuinhas e desorganizando a equipe, ele é demitido! Quando milhares de pessoas saem às ruas, nosso atual sistema político demonstra sua fragilidade. Não tenho que aguentar uma pessoa por 4 anos se ela mentiu pra mim em sua campanha eleitoral. Eu quero a demissão imediata! Mas se só eu quero, então eu estou “errado”. Agora, se milhares do Povo querem a mesma coisa, então essa pessoa tem que deixar o “poder”, assim mesmo, entre aspas, pois o Poder é do Povo. Isso seria Democracia.
O mais grave ainda vem noutra reflexão. Eu, por exemplo, não acredito nas urnas como ferramenta de transformação, tal como gostam de dizer. Quem mudará o Brasil não serão os resultados das urnas, pois sabe-se de sua vulnerabilidade.
Cabral foi hostilizado nos protestos dessa semana e, em vez de receber lideranças do movimento, convocou reunião com a equipe de repressão. É esse tipo de postura política que orgulha grandes corporações e interesses nojentos. Sugestão: continuem barbarizando nas ruas! A barbárie assustará oportunistas exploradores que, insensíveis mas não burros, sabem que na Sociedade da Informação não cabe mais o coronel.
Todos sabemos que as eleições têm atraído uma parcela mínima de candidatos com interesses coletivos. As eleições têm atraído representantes de grupos minoritários que manipulam as máquinas públicas para ampliar seus benefícios; marionetes do capitalismo. Você acredita mesmo que tanta gente se poria a concorrer um cargo exigente, como são esses representativos da República Federativa do Brasil? NÃO!
Por isso não acredito no voto. Acredito na barbárie.