Quando acordou o dia ainda estava escuro. Levantou atrasado, vestiu o uniforme que deixa preparado antes de dormir, lavou o rosto, escovou os dentes e saiu com pressa. Chegou à rodoviária com o ônibus já saindo, estirou o braço e, naquele dia bem-humorado, o motorista freou para que embarcasse. Subiu, mas…
ficou ali mesmo no primeiro degrau, tal a lotação. Saltou atabalhoado, tropeçando em um rapaz maltrapilho que insultou toda sua árvore genealógica. Passou correndo pela portaria da empresa, marcou seu cartão de ponto, virou-se e deu de cara com o chefe de braços cruzados. O fato de nunca antes ter se atrasado não foi suficiente para lhe poupar o sermão. Trabalhou e foi pra casa. No caminho, o mesmo rapaz maltrapilho, de bom porte e semblante, parecia tê-lo sorteado na multidão e, exageradamente educado, diz: “Não vou te roubar. Serei sincero, senhor, que na verdade eu não gosto de trabalhar. O senhor não teria umas moedinhas pra inteirar aqui e eu poder comprar um corotinho de pinga?”
*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, do jornal Taperá, em 6 de julho de 2013.