Jardim do Éden

Olhou o céu e percebeu as horas já adiantadas. Procurou lugar e esperou. Quarado da lida nos jardins, viu se aproximar duas das cozinheiras. A fome lhe apertou aguçando sua imaginação. Tirou o chapéu de palha, coçou a cabeça, depois a orelha, e passando a mão pelo nariz parecia ter finalizado um ritual. Era coisa que fazia sempre que usava de um banco, ou coisa que o valha, para apoiar o pé e descansar a arcada apoiando o cotovelo no joelho. Elas apertavam um sorriso sem lábios, um olhar matuto, e exageravam no movimento da anca. Vinham…
todos os dias, sempre no mesmo horário, a propósito de umas flores levemente amareladas para ornamentar o prato de salada de Dona Cláudia. “As pétalas”, diziam em tom debochado, imitando a patroa, “têm um suave sabor adocicado”. Ele inclinava o corpo para gargalhar e corria a mão no peito a fim de sacar o maço de cigarros do bolso da camisa. Tirava fogo de um palito de fósforo encardido e ficava observando-as de cócoras, na colheita de amores-perfeitos.

*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, do jornal Taperá, em 29 de junho de 2013.