Naquele banco, compondo a música solitária dos fins de tarde no Largo São João, o Sol já havia se escondido atrás da antiga vila operária da Barra e seu copo estava vazio. Todos os outros bebiam e cantavam embargados em volta da mesa de concreto, mas ele preferia esperar, ansioso e sentado, a imponente morena dos enormes brincos de argola que sempre vinha, na outra calçada, caminhando com a malícia das mulheres que simulam imperícia com o salto. Tal era a beleza da moça que ainda estava solteira, pois afastava até o pretendente mais atrevido fazendo-o crer que se tratava de muita areia para seu caminhãozinho. Ali no largo, ela desfilava, sob assobios e cantadas inadequadas, até desaparecer quando virava a rua Monsenhor Couto. Desta feita, inconformado com a postura dos colegas, ele finalmente se levantou sem planejar, contornou a esquina, interceptou-a de supetão e pediu desculpas pelo comportamento do grupo. Ele não voltou. No dia seguinte, na mesma hora, passou de mãos dadas com ela.
*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, do jornal Taperá, em 8 de junho de 2013.