O leva e trás, o parapeito da janela, o umbigo no tanque de lavar roupas, a fila, o ponto de ônibus, os velórios; todos esses fazem parte dos lugares mais fascinantes que inventamos para socializarmos: o Padre afastado pela paróquia, a moça que chegou nova no bairro para morar… sozinha!!! O Clemente da esquina, que deixou a mulher e todo mundo sabe por que; e o filho da Luana então?! Além disso, também são ótimos lugares para se pedir conselhos, desabafar ou apenas lavar roupas, pagar contas, pegar o ônibus ou velar alguém que por aqui não andará mais. Pelo menos a maioria espera que não!Pois certo está que nesses lugares proliferam as maiores inverdades, as coisas menos importantes e, algumas vezes, de total desnecessariedade. Nesses lugares se faz obrigatório comentar as notícias do último telejornal ou primeiro jornal; elas vão do sensacionalismo medíocre à economia, com perícia de dar inveja a muitos comentaristas fanhosos de terno, gravata e diploma milenar. Nesses lugares abusam do ócio para falarem difícil e parecerem “antenados”. É fato!Fazendo uso desses conhecimentos básicos sobre a peculiar brasilidade tenho notado a crescente (depois esquecida!) discussão em torno dum tal biocombustível. Um que auxilia no problema de outro problema, o aquecimento global. Esse biocombustível “verde” aí tem o poder de reduzir a emissão de CO² na atmosfera. Mas tenho caído em mim a propósito da etimologia da palavra biocombustível, quando o prefixo “bio” deve remeter à vida e combustível ao que se consome pela combustão. Ora! É fato que os combustíveis vegetais são pouco “bio”, Seu Zé, dada a artilharia pesada da agro-química e dos pesticidas que fazem “milagres” na produção crescente e insustentável das “plantas do futuro”.Termos como “biodiesel”, “bioetanol” e “biocombustíveis” fazem parte da linguagem comum em lugares para lavar roupas, pagar contas, pegar o ônibus ou velar alguém que por aqui não andará mais. Isso talvez tenha sido possível, em tempo recorde, por via das enormes campanhas publicitárias e imediáticas promotoras dessa farsa sinistra. Mas eles deveriam mesmo se chamar necro-combustíveis, ou ainda necro-etanol. Mas isso seria forte demais: abastecer seu veículo sabendo que para isso ser possível grandes agricultores usaram o deslocamento de populações, o desflorestamento, a miséria social, a erosão do solo, a falta de água, a subnutrição, a desertificação; não vai te fazer bem, principalmente no momento histórico em que o humanóide começa a se preocupar com o planeta. Não vai lhe cair bem!Necro-combustível: com o prefixo perfeito para designar os aspectos técnicos, ecológicos e humanos usados na produção do combustível responsável por acelerar a destruição dos ecossistemas contaminando ainda mais o solo, a atmosfera e as águas com pesticidas e outros elementos nocivos. Necro-combustível, Dona Luzia, pois são necessários entre 500 a 1500 litros de água, dependendo das regiões, para se produzir um quilo de milho. Isso significa que a produção de um litro de etanol à base de milho requer a utilização de 1200 a 3600 litros de água!Os “necro-combustíveis” podem sofrer mutação além da etimologia se considerada sua produção sustentável. A montadora Ford está considerando usar nos assentos de seus veículos espuma feita com soja, mas isso não pode significar a elevação no preço de produtos à base de soja; muito pelo contrário, deve ser o momento para lembrar dos trabalhadores rurais. A soja e o milho estão aparecendo com freqüência, nos EUA, em carpetes, copos descartáveis, sacos para embalar saladas, grama artificial, velas, batons, meias e até em pranchas de surfe, mas isso tudo não deve ser sinônimo da destruição no solo ou aumento no preço dos cereais e ração para animais. O combustível no seu motor pode ser bio, mas deve fazer jus ao seu prefixo.Pensando nessa sustentabilidade o presidente Lula foi convidado de honra na Conferência Internacional de Biocombustíveis realizada em Bruxelas pela União Européia no mês de junho. Esse evento era pra debater, dentre outras coisas, políticas de incentivo à produção sustentável de biocombustíveis… Qualquer preço pra indenpender do petróleo!- Mas, Alex, esse assunto já é velho… A bola da vez é o acidente da TAM!- Verdade, aí o povo vai falando feito piloto de avião. Nem se lembram da “cratera”…- Ó lá, Alex, é seu busão!