Um senhor de estatura meã, rosto largo, metódico, de bigode espesso e um bocado ambicioso completa seus cinqüenta anos e decide que deixaria de ser funcionário, mesmo que como um dos mais importantes executivos de qualquer companhia que seja o incomodava a idéia de estar submisso. Fundaria, em sociedade, sua própria construtora e, então uma dúvida o cerceia: o nome dessa empresa. Existiram alguns surtos de criatividade, mas seu misticismo ditou a marca. Daria à empreitada de sua vida o segundo nome daquele que era uma inspiração espiritual e uma obsessão pessoal: Siddhartha Gautama, o Buda. Tempo depois, já na sua casa em condomínio na região metropolitana de Salvador, fez erguer um templo dedicado às orações que praticava com pouca freqüência, dado seu comprometimento em corromper as vestes da maldade. Embora ele tenha nenhuma semelhança física com o Tarzan, tentou dividir sua ocupação com a atenção necessária no matrimônio com Jane, mãe de seus dois filhos, e algumas partidas de tênis em sua quadra particular.Ocupado em agradar pessoas interessantes ele usa pouco de todo dinheiro que amealhou nos anos dedicados à Construtora OAS, a qual ele considera a verdadeira escola do exercício de influência. Em datas comemorativas ele tem hábito peculiar em sua personalidade: distribuir presentes. O natal, pra quem o cerca, é uma das datas com essa característica. Luzes bem claras, energia positiva e muitos, mas muitos presentes!Dono de conversas rápidas ao telefone, esse senhor paraibano acabou se tornando um empresário de sucesso graças à sua facilidade em fazer amizades no lugar certo. Em Brasília, por exemplo, era visto com freqüência na companhia agradável de políticos, independendo o partido, pois se considerava suprapartidário.Passados alguns poucos anos esse senhor, agora mais experiente, percebeu sua competência e decidiu romper parte da sociedade. Essa manobra inchou ainda mais o grupo e acabou por formatar alguns desafetos, coisa que não tirava o sono do sereno budista. Desafetos e suas articulações. Desafetos e seus egos feridos. Tudo pouco importava próximo do império que a Construtora Gautama liderava. Agora ele estava comandando aproximadamente 7.500 funcionários espalhados por São Paulo, Brasília, Salvador, Rio de Janeiro e Maceió construindo “pontes que ligam o nada a lugar nenhum”.Em certo momento de enlevo empresarial, quando está em perfeito exercício da dedicação à prestação de serviço qualificado em obras públicas, seu caminho se cruza com o de uma funcionária da Secretaria de Infra-estrutura do Estado de Alagoas. Foi fácil convencê-la a participar da Construtora Gautama onde atingiu estabilidade financeira que vinha lutando há muito tempo no serviço público. Assim a alagoana Maria de Fátima Palmeira logo ascendeu à Diretoria do grupo, considerando sua experiência e contatos.Quando seus telefonemas curtos são grampeados e se tornam público Zuleido Soares Veras faz lembrar-se de seus desafetos, mas já tinha passada a luz e o dia, 17 de maio, proclamava trevas. Homens educados com coletes negros de escritos amarelos o surpreendem com algemas. Manchetes de jornal estupram sua vida particular. Amizades praticantes o negam.Isso tudo fazia parte de uma tal Operação Navalha que acabou prendendo outras 46 pessoas. Privado de seus direitos cidadãos Zuleido Soares Veras, budista, ambicioso, metódico, vaidoso e prostituído não viu muita coisa acontecer após esse dia. Sequer ficou sabendo a razão do nome da operação, inspirado no filme Navalha na Carne, isso porque o próprio governo autorizou ação que envolvia a máquina e personagens da base de sustentação política do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Tal situação se comprovou, por exemplo, com visita de Maria Fátima Palmeira a Ivo Almeida Costa, assessor especial do Ministério de Minas e Energia para tratar de assuntos referentes ao programa Luz Para Todos. Dai-nos luz Deus!Mas o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, afirmou que não existia nada que o comprometesse e permaneceria no cargo até o momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quisesse. As coisas foram apertando e o ministro preferiu entregar carta onde comunicava seu afastamento. Porém no início da semana o presidente do Brasil manifestou o maior dos interesses no retorno do ministro à frente das Minas e Energia. Mas liga não brasileiro! Tudo isso é porque a Operação Navalha já passou e seu fio, pouco afiado, está agora totalmente cego..Bem, tentaram criar uma Comissão Par(a)lamentar Mista de Inquérito (“mista” por envolver o Senado Federal e a Câmara dos Deputados) duas vezes, mas sempre houve gente inteligente retirando assinaturas e inviabilizando a carnificina. Depois estavam todos olhando para o pobre senador Joaquim Roriz, mas ele renunciou e perdeu a graça. Agora estão focados em destruir a vida do presidente do Senado Renan Calheiros. Isso significa que a Operação Navalha se foi mesmo, como uma novela e, ainda que admirada ou odiada, deixou de fazer parte dos nossos dias vazios e aborrecidos. Ainda que de uma dramaticidade fenomenal ela acabou feita do mesmo fim amado na Operação Aquarela ou em Operação Sanguessuga e, por que não lembrar dos tensos capítulos de Operação Xeque-Mate?! Saudades da Operação Pororoca! Vibração total em Operação Abatedouro e, que venha Operação Ruby!