Quando uma economia vai se equalizando, carrega uma série de transformações na sociedade. Uma delas vem suscitando toda sorte de observação: a quantidade de idosos no Brasil. Se de um lado preocupa os cofres públicos por ser uma população que já contribuiu, não trabalha e agora foi parar nos custos da previdência; por outro, entusiasma o mercado turístico, pois a condição social favorece o lazer.
De acordo com estatísticas do IBGE, no ano 2000 cerca de 30% da população do Brasil tinham até 14 anos, e os maiores de 65 anos eram apenas 5%. Com uma expectativa de vida ultrapassando os 70 anos, hoje já são quase 21 milhões, como confirmou o Censo 2010, representando 10,79% dos brasileiros. Projeção divulgada em abril pelo BIRD mostrou que, em 2050, o Brasil terá 64 milhões de idosos, configurando 29,7% de todos os cidadãos; um desafio para o desenvolvimento.
Essa turma, reconhecida no Turismo como Melhor Idade, vive mesmo uma de suas melhores fases no país. Já em 2005, de acordo com a GFK Indicator, especializada em pesquisas de mercado, esse grupo movimentava 90 bilhões de reais por ano, sendo que uma parte considerável dedicada aos gastos com viajens e lazer. Segundo o estudo, 63% dos idosos das classes A e B viajavam pelo menos 4 vezes por ano.
Companhias aéreas, hotéis, restaurantes, locadoras de veículos, dentre tantos outros “operários de sonhos”, começam então a otimizar o aproveitamento de seus equipamentos, diminuindo os impactos da “assombração” chamada sazonalidade.
Segundo o Ministério do Turismo, entre 2007 e 2009 cerca de 500 mil idosos compraram pacotes dentro do Viaja Mais Melhor Idade, pacote criado pelo Governo que tem como principal objetivo exatamente a movimentação em baixa temporada a fim de agitar o mercado interno. Um balanço realizado em 2009 revelou os destinos mais procurados; Caldas Novas (GO) foi a preferida nas temporadas 2007 e 2009, enquanto que a região serrana do Rio Grande do Sul recebeu mais visitantes do programa em 2008.
Os outros destinos eleitos por essa galera foram Fortaleza (CE), Maceió (AL), Araxá (MG), Recife (PE), Salvador (BA) e Gravatal (SC). Agora, cabe estudo sobre esses locais – e suas escolhas na hora de recepcionar – para aprender com os resultados.
Caldas Novas, por exemplo, não é de hoje a preferida da Melhor Idade que, viajando em grupos organizados, lotam a cidade e costumam visitá-la várias vezes, representando um estágio avançado da análise de consumo; o de conversão do turista, ou seja, quando ele retorna ao destino.
Logo que se tornam importantes consumidores, começam a orientar o fornecimento de serviços exigindo uma infraestrutura especializada, capaz de atender não só a demanda por entretenimento mas também as necessidades especiais desse nicho, principalmente na área de saúde. Aliás, é inadmissível que um aparelho turístico interessado nesse cenário não tenha suporte de enfermaria, por exemplo.
Aos empreendedores mais inteligentes, uma estrutura receptiva que conte com nutricionistas, massagistas e educadores físicos acessíveis, faz a diferença… mas por pouco tempo. Pois em breve isso deve se tornar comum dado o alto poder de consumo dos idosos.
Os brasileiros descobriram uma nova maneira de envelhecer, preocupando-se menos e usando melhor sua aposentadoria no consumo de novidades e outros sonhos impossíveis para seus pais. Porém com novas exigências.
Produtos e serviços “feitos para a vovó” vão mofar nas prateleiras.