Veio com as mãos trêmulas, inseguro. Por sua vez, o assobio, ecoava cada vez mais sombrio, uma canção em vibrato. Suas pupilas dilataram e suas narinas se ampliaram; o desconhecido sempre fora seu predador. Àquela hora qualquer som ia longe, por isso não conseguia precisá-lo à curva de alguma esquina próxima ou distante lá nos altos da Bela Vista. Agachou e se armou de um punhado de areia encontrada no meio-fio. Abrigou-se nos beirais, buscando uma proteção inconsciente e nula, pois ficava vulnerável aos…
cães traiçoeiros dessas casas que têm os portões acessíveis aos focinhos vorazes e barulhentos da noite. Esfregou a areia na mão esquerda e andou, alerta. De cabeça altiva, sofreu um solavanco de buraco desconhecido, até então, na calçada cotidiana de seu roteiro. Abaixou a cabeça para se perceber com o pé direito melado no barro, murmurou uma blasfêmia e, quando caiu em si, o assobio estava passando por ele. Chegou em casa e sorriu com a esposa: “Amanhã mesmo vou curar essa cegueira”.
*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, no jornal Taperá, em 09/11/2013.