Telefonou para as poucas pessoas que ficam. Disse algumas palavras e não ouviu nenhuma. Foi até o banheiro, lavou as mãos, olhou no espelho por longos dez segundos, lavou as mãos novamente e saiu. Agora, na calçada, ela parou de costas para o porteiro intrometido e ficou observando o céu numa amarga sensação de sua pequenez e delírio de suas mãos trêmulas. Desceu em passos lentos para a avenida morta. Era madrugada fria de se admirar as mudas de árvores do canteiro central dançarem frágeis. Chegou ao quiosque onde já esperavam-na as poucas pessoas que ficam, com suas manias conhecidas e piadas internas. Mas desta vez…
cumprimentou silenciosamente, em um som gélido que contagiou logo. Entreolharam-se e todos sentaram ao mesmo tempo. Olhou fixamente primeiro para ela e, num olhar mais duro e lacrimejando, fitou-o, apertando os lábios e franzindo a testa. Ele chorou como uma criança. Levantaram-se em sincronia. Ela sumiu na nua avenida Getúlio Vargas. Eles ficaram ali parados, e solteiros.
*Originalmente publicado na coluna “Conto… ou não conto?”, no jornal Taperá, em 19/10/2013.