Atravessou a rua e entrou em uma lanchonete vazia, estreita e com pouca luz. Enquanto pisava cauteloso viu aproximar-se, serelepe, uma menina oriental com menos de um metro de altura, cabelo até os ombros e muito carismática. A garota chegava a ser escondida pelo balcão abarrotado e, naquela fração de segundos em que o surpreendeu a espontaneidade da menina, fez titubear um tímido “olá”, que foi correspondido por um sorriso. Por meio dos olhos e…
sobrancelhas pequenas disse, sem precisar falar: “O que o senhor deseja?”. Ele pediu um refrigerante. Ela foi até a geladeira vertical, abriu, ficou somente com as pontas dos pés no chão e pegou um. Ele bebeu rápido e perguntou quanto devia. Ela berrou dez segundos de um chinês rápido, ouviu três palavras de um outro chinês mais adulto, virou-se para ele e disse, em português nativo e agudo: “Um real”. Feito em um nó na garganta, saiu perturbado e com destino: comprar um presente à filha que estava em casa fazendo o dever da escola àquela hora.
*Originalmente publicado na coluna “Conto… ou não conto?”, no jornal Taperá, em 12/10/2013.