Aguardando ônibus desenvolvi hábito de ler manchetes em bancas de jornal. Das letras grandes eu fazia meu dia, assistido pelo jornaleiro com sobrancelhas curvas e pesadas ao centro, já que não adquiria sequer os semanários gratuitos. Tenho certa aversão ao jornal quando considero sua sujeira, mas levava comigo – mesmo que há algum tempo usando o modelo democrático de informação na internet – toda sua “sujeira”.Levei comigo letras gigantes chorando a morte de Renato Russo, letras berrando o pênalti perdido por Marcelinho Carioca, a ascensão de Lula, o acidente da TAM e o recente-lamentável Caso Renan. Semeei a quatro ventos palavras que não eram minhas e acabei sentado numa cama de quarto iluminado pela televisão, pensando minha estupidez ao espumar boca falando sobre algo que não presenciei.De como somos vítimas da “informação demasiada” na possibilidade das coisas premeditadas. De como é possível formar opiniões, mover multidões ou enfrentar canhões por meio das letras maiores. De como somos vulneráveis em nossas opiniões. Do quanto somos vítimas.A permeio da imprensa monopolizam a informação, logo, somos o que não queremos ser. Penso nisso desde o 11 de setembro, quando tinha aulas geopolíticas com um jovem de estatura meã, um bocado gordo e deveras extrovertido que entrou na sala comemorando o abalo do imperialismo e, desde tempo findo, jamais acreditei na existência do tal Bin Laden. Tudo que vimos acontecer em nossa televisão foi gerado e gerido pela CNN. Alguém aí já trocou meias palavras que seja, com esse senhor barbudo?! Tudo isso “graças” à mídia. “No muito conhecer, conheci o enfado”.No tudo sob as aventas da imprensa tomamos partido, em sua maioria, ignorantes. Pergunto-me se é possível absolver o presidente Lula na relação com tudo que aconteceu em sua gestão, ou condenar o Senador Renan Calheiros, ou ainda anistiar o presidente Chávez quando de tudo que vi não vi muito. Tudo isso “graças” à mídia. Na “informação de baciada” evoluímos para o estado cético de existência.Tem já passado alguns séculos desde a reunião, na cidade de Itu, dum grupo de interesse no cafezal pra desenvolver os objetivos e as diretrizes do que seria o Partido Republicano Paulista e, pra desestruturar o império, era preciso ousar: o jornal “A Província de São Paulo”, pra ridicularizar o modelo monárquico existente. Uma arma que provou eficiência quatorze anos mais tarde com a república instaurada. Agora só era preciso trocar o nome para “O Estado de São Paulo” e deixar toda a sujeira escondida nos empoeirados arquivos históricos. Tudo isso “graças” à mídia. Na “informação de penca” alcançamos a plenitude do ridículo.Graças à internet auscultamos nossa existência social como nunca dantes. Mas até para isso é preciso usar o filtro cultural, pois se trata dum fascinante território democrático, talvez o único existente na contemporaneidade. Em página virtual cabe tudo e, que bom descobrir a internet imensurável e sua inserção no mundo da mídia quando meu irmão entra na sala ofegante e, num tom debochado diz:- Essa mídia acaba comigo!Ao retruque rápido e sagaz de minha avó, senhora de bastante idade e pouca instrução:- Quando cê vai trazê a Mídia aqui em casa pra gente conhecê, fío?!