A procissão

O vasto Império da dor
Absorveu a fragrância
Do perfeito perfume
Do vil e do torpor,
E, amargando meus lábios,
Realçou o odor
E me fez atirar,
Atirar-me do andor
E descer ladeira abaixo
Por entre a multidão,
Cortando pessoas de vestes brancas
E folhetos nas mãos.
Cheios de boas intenções,
Cadarços novos,
Maquiagem vermelho-rosa,
O melhor aroma de todos os povos
E folhetos nas mãos.


Alguns meninos de calças curtas,
Dois trotes e uns cigarros atrás
Deixavam todos de sobrancelhas em “v”.
Acho que era demagogia,
Acho que tinha gosto ruim,
Acho que gosto algum tinha.
Os meninos de calças curtas
Perdem seus significados com o tempo;
Como o tempo,
Senhor do esquecimento,
O deixa relegado ao vento,
Às páginas de jornal antigo
E pesquisas sem título.


Isso tudo e estava sobre o andor
Acreditando em palavras soltas
Soluçando aclamações,
Cantarolando versos milenares
Cheios de charme e pouca devoção.
Isso tudo
E eu sobre o andor
Acreditando nos mais profundos…
Profusão insensata,
Egoísta,
Estúpida
E humilde;
Cheia de charme e pouca devoção.
Devoção covarde.

O vasto Império da dor
Absorveu a fragrância do perfeito perfume
Fazendo-me tropeçar
Nos bons costumes.


Ladeira abaixo eu tropecei.
Tropecei em tamanha covardia.
Tropecei no cansaço,
Na fadiga.
Ladeira abaixo eu tropecei
Nos encantos da boa vida
E me entreguei à perdição de um sovina.
Afinal eu havia descido