As coisas enquanto grandes

Acredito que algumas poucas pessoas têm acesso às “grandes coisas”. Algumas poucas pessoas acabam nutrindo os bons lugares no estacionamento, a melhor mesa do restaurante, o lado do ônibus que não terá sol, a direção correta para os transeuntes e outra infinidade do conhecimento pouco popular. Somente algumas pessoas.

Pois estão nessas ditas “pequenas coisas” as fendas que conectam o ser ao saber. Machado de Assis que o diga, ou então o berro n’água de Quincas, o obeso da minha imaginação adolescente. Quando observado com paciência o universo nos presenteia mergulhado em euforia. Quando observamos o mapa do planeta terrestre, por exemplo, percebemos que tudo foi ligado há algum dia provando a Gondwana; quando você observa o sorvete derretendo descobre que o calor intenso está para o aquecimento global assim como Bolaños, o comediante do século XX, está para o Chaves.

E o que tem de fantástico em aproximar-se das “pequenas coisas”?! Qual o mérito daquele que preferiu ler o obituário em vez do Caderno de Economia?! Pois é, sempre preferi crer em dois conhecimentos: o “mastigado” em manchetes e salas de aula; e o adquirido com a observação, a fina observação que aflora em todos os seres, mas somente algumas poucas pessoas a desenvolvem. Somente algumas pessoas.

Está lá, no olhar distante, nos braços soltos e na boca entreaberta: a escola da paciência. Está lá pra provar do veneno destilado pelo então Rei Salomão dizendo que “no muito conhecer conheci o enfado”. Pois é, Sir Salomão, as coisas são assim mesmo. Num dado momento ansiamos conhecer o suficiente para não deixar na pasta “Enviados” algo que deveria ser totalmente excluído do e-mail; noutra esfera preferiríamos desabafar para árvores fartas em seiva a fim de secá-las com nossos segredos.

Dizendo das coisas enquanto pequenas tem um grito em mim que, transfigurado, perderia a voz. NÃO SOU POETA, PORRA!!! Sou marqueteiro. Uma dose curta de vodka, por favor! Sou publicitário, não sou poeta. O poeta esconderia seus berros, eu não. O poeta gritaria com educação, eu não. O poeta observa demais. O poeta mastigaria seu fígado com eufemismos e você estaria lá, admirando a maneira como ele brinca com as palavras. Eu não! Eu quero gritar mesmo! Quero enfiar um murro na sua barriga pra ter-te bufando pouco ar no meu rosto. Cansei de ser poeta! Vou dar nome aos burros, vacas, asnos, ignorantes, filhos de puta, de Maria ou José. Seja quem for!

No entanto, cá estou, sentado nas “pequenas coisas” e sentando em cadeiras duras e mal distribuídas de uma faculdade pra provar ao sistema, pronto quando cheguei habitar esse mundo, minha ignorância, rispidez e arrogância. Finalmente eu tenho minha chance de provar a arte da manipulação. Provar o poder da palavra, da sexta-feira à noite, do hot-dog quatro queijos e… dos e-mails.