Carta Aberta Sobre a Coronacrise Para Quem Empreende

Sabe aquela padaria em que você ia normalmente antes da crise e via a galera espirrar na mão, depois te atender?

Não é colando um cartaz escrito “seguimos todas as orientações e protocolos de higiene sanitária” que você vai sair forte dessa crise.

Sabe aquela padaria em que você ia normalmente antes da crise e via a galera espirrar na mão, depois te atender? Ou então que você via a mesma pessoa que limpou o banheiro ir pegar pão no cesto para você? E quando você via o padeiro fumando na calçada, então?!

Agora essa padaria colocou uma plaquinha lá dizendo que está “seguindo todas as orientações e protocolos de higiene sanitária”. E você, acreditou? Tem confiança? Acha mesmo que aquele negócio levado “nas coxas” vai se preocupar agora, em crise?

O nome disso é credibilidade, ou “falta de”, e foi construída com o branding dessa marca; suas escolhas durante todo tempo no mercado; fornecedores que usa; e por aí vai.

Por isso o sistema de delivery de comida viu queda no faturamento e os restaurantes estão em pânico. Afinal, as pessoas compravam antes, mesmo sabendo que não tinha nenhuma higiene envolvida. Você também ignorava, vá! Agora não. As pessoas preferem não arriscar. Você não confia.

Em qual categoria de aventureira ou aventureiro você se vê?

Na “aldeia dos loucos”, de René Goscinny e Albert Uderzo, ilhados em uma fantasia de que o Império Romano era só um grande exército desqualificado e fraco, uma comunidade gaulesa prospera com o comércio. Ali, um dos momentos mais relaxantes das sagas é ver Asterix e Obelix atravessar a pequena vila entre a barraca de peixe, o rancho do ferreiro e o Chatotorix cantando.

Fora da ficção, os fenícios criaram o embrião dos ERP’s (Planejamento de Recursos Empresariais) quando notaram a necessidade de organizar as coisas para não perder o controle e, claro, mensurar a recompensa pelo trabalho. Com registros em placas de barro, evitavam imbróglios, e acabaram influenciando o alfabeto ocidental contemporâneo.

E, como não lembrar, por ocasião do surgimento do novo coronavírus, de Marco Polo e suas histórias sobre a China? Um verdadeiro MEI (Micro Empreendedor Individual) que cuidava de tudo e terminou rico mercador que aprendeu com os erros nas andanças de seu pai com seu tio. 

Pois bem, empreender é se reinventar. É reconstruir diariamente. É remodelar, fazer novas rotinas, abrir novos fornecedores, conhecer outras empresas, conversar com clientes e arriscar tendências de comportamento. No melhor sentido da palavra, empreender é uma “aventura”! 

Mas a terra das oportunidades, que veio junto com o American Dream e começou com a Revolução Industrial, forjou empreendedores que não veem a hora de sair do front. São pessoas que não gostam de trabalhar como os gauleses, os fenícios e muito menos como Marco Polo. Essa “terra” parece formada por pessoas que não gostam do que fazem, mas foi o que acabou “dando certo”, então contratam bastante gente e vão descansar.

Não há mal nisso, afinal, buscar a posição fetal é nossa meta instintiva. Buscar o conforto. Ocorre que quando se empreende, seu negócio depende integralmente da inquietude. Quem se acomoda, perde espaço. Perde mercado.

Mas, toda batalha cansa. Por isso, muitos negócios precisam ser transferidos para outras pessoas – sejam herdeiros ou não – mais cheias de gana, assim que você se cansar. Reconhecer isso com humildade é a jogada de mestre em grandes negócios.

O que fazer então com essa CORONACRISE picando cartão na minha vida?

Toda essa canseira fica mais aparente agora, em meio à CORONACRISE, quando muitas empresas foram pegas de “calças curtas”. Não estar preparado para o que está acontecendo agora não foi uma falha. A falha está em não enxergar essa fase como uma oportunidade de melhoria, reflexão, posicionamento comercial, desenvolvimento de equipe, etc..

É hora de fazer um trabalho sério, engajado, com prazer. E fugir da posição fetal colando um cartazinho escrito “Estamos seguindo todas as orientações e protocolos de higiene sanitária”. Faça mais! Aproveite para se reinventar! Pensar! Brincar! Albert Einstein disse algo mais ou menos sobre isso, explicando que a criatividade é a inteligência se divertindo. Gênio!

É hora de criar brincando, gente! Com prazer! Reunir pessoas, com boa distância e “seguindo todas as orientações e protocolos de higiene sanitária” (Tsc tsc tsc), ou em um call. Pessoas sendo motivadas a brincar como gestores, como se estivessem jogando Banco Imobiliário, War, Ludo. Em zona de conforto e alto astral, surgem grandes ideias.

Fuja do pânico com algo irreversível. Quanto mais tempo você demorar para entender que é irreversível, maior pode ser o furo no seu caixa, pois mais tempo terá levado para tomar atitudes, movimentar-se.

Agora uma observação pertinente: fuja de ondas e não se precipite em passar vergonha. Reconheça suas falhas e seja transparente com o seu cliente, pois ele te recompensa aumentando a curva da confiança. As pessoas são outras. O mundo é outro. Seja também, ou feche seu negócio.

E aí, o que você vai fazer com sua empresa ou sua carreira para construir essa credibilidade e sair da CORONACRISE mais forte do que entrou, tal qual o Japão após a Segunda Guerra Mundial?

Certamente não conseguirá entrando em pânico.