As lâmpadas todas acesas. Um eco musical vindo da sala, em casa que forma corredor passando pela sala de jantar. Corredor transformado pista de corrida pelas crianças, obstáculos aos adultos que, perturbados pela fome, vão e vêm numa inquietude agradável. Casa “perfumada” pelo bife fritando em fogo brando tem cebola picada rodelinha, na frigideira. Tem seis bocas no fogão e umas quinze na cozinha! Gente falando alto e sobre todos os assuntos, fazendo questão de atravessar o papo alheio, com risos contidos ou gargalhadas histéricas.
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Parte está sentada, outra parte fica de pé mesmo. A cozinha é herança de italianos, mas não é salão de festa! Isso significa que somente os mais velhos ou as mulheres sentam?! Quar qui não! Cozinha é território livre. Senta quem chega primeiro e fica de pé quem é centro das atenções; quem tem alguma novidade bombástica do bairro, da igreja ou até da família mesmo. Sua ausência provavelmente se transformará em assunto.
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Tem gente sentada até no chão, olhando pra cima crente que os próximos dias serão de chuva: “Ninguém güenta mais esse calor! Jesuis!”. Enquanto isso, entre um comentário e outro, não se pode esquecer do bife na frigideira e da água… Quente! “Ah, essas hora já evaporô, mãe!” murmuram os filhos, filhas e “anexos”. Isso mesmo! Pois na cozinha tem lugar para os “anexos” também.
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A água é pra amolecer o macarrão espaguete, que alguns filhos ainda queimam no fogo da frigideira, pra lembrar infância quando aquele macarrão duro, e carbonizado, era uma delícia!
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O macarrão é quebrado ao meio, para o ódio dos italianos e tradição da família, e jogado na água quase evaporada para ser derrotado. Virará um nada! Um mole! Um fracassado! Uma delícia! Logo após, levado ao escorredor mais alguns minutos o separam do complemento: o molho. Depois o balcão. Sim, pois a janta é servida e saboreada em pé. Ao passo que a balburdia, à essa hora denotava, aos desavisados novos vizinhos, uma festa. Quando irrompendo até a fala mais alta, Miriane, menina de uns quase seis anos, berra com voz que nem é grossa, nem é fina:
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“Espelho, espelho meu! Diga sem dó! Existe um macarrão mais sem molho que o da minha vó?!”. A balburdia