Contagem regressiva

Curvou tanto para amarrar o tênis que pôde enxergá-la caída embaixo da cama. Esticava o braço, estirando o dedo médio a fim de alcançá-la, quando percebeu sua amante se aproximando. Voltou-se rapidamente assumindo postura e continuou um alongamento do corpo, olhou o cronômetro zerado no relógio do pulso e saiu rápido do quarto, sob observações matrimoniais: “Tinha perdido a aliança de novo, né?” Entrou no elevador e, representando estar…
numa esteira, desceu e saiu do hotel. Uma vez na calçada, iniciou o cronômetro e começou a correr. Corria pesado, sentindo o forte impacto do chão em seu pé. Sentia seu coração inchar. Parecia fugir, e suas sobrancelhas revelavam seus densos pensamentos. Quando chegou à praia já era noite e continuou correndo. Corria sem pausa. Pela manhã, colorido de um amarelo bem frágil, ele finalmente foi reconhecido. A aliança ia no dedos, mas ele já não estava mais na aliança há anos. O policial pegou o braço enrijecido e o cronômetro, parado, marcava 02:16:03.85.

*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, no jornal Taperá, em 14/09/2013.