Estar conectado em múltiplas plataformas e conhecer pessoas diferentes de nós é o que enriquece a experiência humana e, em dias de novas teologias, na qual “fracasso” representa o antigo diabo enquanto “sucesso” é o novo deus, prever uma tendência é a chave do sucesso.
A essa habilidade alguns deram o nome, no fim do século passado, de coolhunting. Uma brincadeira com a ideia de “caçar coisas legais”, ou seja, tendências. Grandes empresas contratam pessoas com essa habilidade para se anteciparem no mercado capitalista das “necessidades” e lançarem um produto ou serviço antes dos concorrentes, por exemplo.
Fotos de Mc Rashid em Itu
Apresentação de Mc Rashid em Itu, interior de São Paulo
Muito tempo antes dessa “ciência” existir, desenvolvi, dentre outras coisas, uma habilidade em ouvir conversas alheias que algum tempo atrás seria rotulada como “bisbilhotice”, mas hoje sou um coolhunter. Gosto da segunda definição sobre mim, pois me absolve, ao passo que a de “bisbilhoteiro” pega mal.
Quando fiz minha conta no Twitter, a primeira providência foi seguir pessoas desconhecidas, de toda a parte do mundo, e completamente diferentes de mim, segundo meu próprio conceito. Outra resolução foi não seguir nenhuma “celebridade”, nenhum perfil popular e nenhum perfil político. Acredito que dei a minha melhor tacada em redes sociais. Seguindo essas pessoas estranhas eu consegui ter uma leitura mais próxima da realidade sobre o que pensam e querem, de verdade, a nova sociedade.
Escutando conversa alheia, e papeando com pessoas estranhas, descobri que o rapper paulistano, Mc Rashid, era uma figura forte e de um impacto que ainda não atingiu o ápice. Inclusive cheguei a articular uma pré-agenda com o cantor para um show que produziria a um cliente meu. A agenda tomou outro rumo estratégico e ele foi pra geladeira. Hoje, 15 de junho, o cara veio se apresentar em Itu sob presente do Circuito Sesc de Artes. Resultado? Show lotado!
O cara é “bonitinho”, canta pra playboy e vende CD’s à R$ 5,00 com um discurso muito politizado de brinde. Seu público, na maioria adolescentes histéricas que jornalista de redação acredita berrarem só por sertanejo universitário, não ouve mais CD’s, mas ele vende como água! Vende pois quem compra, o faz para “fortalecer o movimento”.
E qual é esse movimento? O de promover a militância jovem para uma causa mais nobre em prol de suas comunidades, em vez de ficarem reféns dos “quadradinhos de oito”.
E as coisas começaram a despontar com os recentes protestos Brasil afora. Daí “neguinho” vem dizer que lá na Consolação, durante a Batalha do Vinagre de São Paulo, só tinham adolescentes que nem saíram das fraldas e não sabem o que estão fazendo na rua a não ser baderna. Pois é aí que as elites vacilam. Esses, e essas, adolescentes, sabem exatamente o que estão fazendo!
E sabem pois são nativos digitais de um planeta Terra que não tem mais limites geográficos. Sabem pois têm acesso à toda sorte de expressão artística em canais bem mais democráticos. Sabem pois não se alimentam mais da Educação escolar, do governo ou privada, falidas; alimentam-se de Arte. Arte como a de Mc Rashid.
Sabem o que estão fazendo nas ruas? Protestando por um Estado mais justo, pois são conectados e produtores de tendências.
O que falta mesmo, é gestor público coolhunter.