Uma das últimas inspetoras de aluno do qual se tem notícia, andava com pés de veludo para não incomodar as salas de aula. Quando todas as portas estavam fechadas, o corredor espaçoso sublimava um tom, até certo ponto, sombrio. O arrepio partia do cóxis e se espalhava pelas costas. Em poucos passos chegaria até…a escadaria e, portanto, apenas quarenta e cinco degraus a separariam do fim de seu turno. Abaixou a cabeça para se olhar tirando as chaves do bolso e, quando voltou os olhos para o seu destino, foi surpreendida pela imagem de uma garota sentada no primeiro degrau. Acelerou os passos e, preocupada mais em exercer seu poder do que ouvir, indagou: “Gostaria de saber o que a senhorita faz fora da sala?” Começou ouvindo respostas ainda em pé e com as mãos na cintura, sentou-se para o prólogo e, no desfecho, chorou junto. Levantou-se deixando a garota para trás e, de frente ao relógio de ponto, quando perguntada sobre suas lágrimas, justificou sem medo: “Venho de me encontrar comigo”.
*Originalmente publicado na coluna “conto… ou não conto?”, no jornal Tapera, em 7/09/2013