Hoje percebi ali, perdido entre um monte de spam, um email de um remetente aguardado há muito tempo: a USP. Era meu certificado da pós-graduação. Fiquei emocionado, pois foi uma luta dura contra parte de mim, e venci. Tinha todos os ingredientes para perder, mas eu venci.
Venci fazendo muito trade-off, perdendo algumas oportunidades de negócios, abrindo mão de alguns encontros sociais, ganhando muitos fios de cabelo branco, acelerando o tamanho da pedra dentro do meu rim, e colecionando vontade de desistir.
Agora tenho clareza da minha vitória tanto quanto do meu autodiagnóstico: EU NÃO GOSTO DE “ESTUDAR”; nunca gostei, confesso. Nunca gostei dessa metodologia convencional em que uma pessoa fala e as outras precisam ouvir. Essa estrutura tribal não me hipnotiza e, talvez por isso, faço um esforço ercúleo para criar sempre ações interativas nas jornadas em que me vejo na figura de “professor” – com bastante aspas.
Na época da graduação, por exemplo, não fui à colação de grau pois queriam me entregar o diploma só porque eu tinha um cargo de destaque no mercado. Naquela época era gerente de relacionamento na Fazenda do Chocolate e estar na foto oficial do curso seria bom para a instituição… Então, queriam que eu colasse grau mesmo não tendo entregue todos os documentos necessários de estágio. E eu não os entreguei porque esse nunca foi o meu lance.
Embora eu já fizesse o tal “estágio” todo dia na prática, afinal eu trabalhava na área, não fiz a documentação necessária para validar o estágio, pois eu NUNCA GOSTEI DE ESTUDAR. Nunca curti esse modelo escolar em que você precisa provar para alguém o que você aprendeu para – claro! – essa outra pessoa certificar o conhecimento adquirido e transferir a você o prestígio de uma instituição.
A Teoria do Flow
A verdade é que em raríssimas oportunidades consegui atingir o flow dentro dessas arquiteturas tradicionais com hierarquia, como a escola.
O “estado de flow” é um estado mental em que uma pessoa está totalmente imersa em uma atividade, com foco intenso, engajamento completo e uma sensação de bem-estar. Nesse estado, o tempo parece passar mais rápido e a gente perde a consciência de si, sentindo-se profundamente envolvido e curtindo a tarefa.
O termo foi primeiro teorizado pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi. Ele descreveu o flow como uma experiência otimizada de envolvimento na qual as habilidades pessoais são desafiadas de forma adequada, nem acima e nem abaixo das suas habilidades, criando uma sensação de controle e euforia.
Para ele, se você receber uma tarefa que pareça inalcançável, você não chegará nem perto do fluxo intelectual pleno e prazeroso. Ao passo que, se a tarefa for muito fácil e exigir pouco das suas habilidades, você ficará em estado de tédio, e não de flow.
Meu estado de flow é “fazendo”, não estudando. Eu gosto de fazer. Então, para quem NÃO GOSTA DE ESTUDAR nesse modelo convencional, principalmente de uma instituição conceituada e tradicional como a USP; e teve que provar alguma coisa para alguém fazendo provas, defendendo uma pesquisa sobre inovação em pequenas empresas de refeições coletivas, e apresentando trabalhos; esse email perdido entre spam’s me emocionou muito.
Foi muito doído; foi desgastante. Mas venci. Vale a pena.