Observou parado, e por um tempo imensurável, o cachorro magro e manquitola que atravessou sem olhar e foi marcando de sangue o caminho. O semáforo, que já executara seu ciclo duas vezes desde que ele escolhera parar seu tempo, assistia, com desdém, o pobre cruzar a rua. Era um rastro vermelho claro que ora era largo, ora era fino quase nada, e essa irregularidade revelava a sinfonia escrita nas pupilas de Edgar. Uma composição suave e perturbadora. Uma sucessão de reveses desde o grito, resposta rápida da amídala. Uma euforia que cobrara todos os centavos. Então ali, olhando dezenas de cores barulhentas passarem, tudo foi acinzentando como os discos de cores do arco íris quando girados em velocidade; coisa do Newton, e da infância distante. Depois ficou branco. Num branco que era possível descansar as pálpebras e sorrir só com os lábios Edgar caiu frouxo.