Mala extraviada

Conto de Alex Pinheiro, da série “1000 caracteres de uma história”. Nesta série, publicada na coluna “Conto… ou não conto?” do jornal Taperá, todos os textos foram escritos exatamente com 1000 caracteres. Este nunca foi publicado.

Tocou o couro da mala suavemente, escorregando a palma da mão até alcançar o puxador do zíper do outro lado. Apertou-o entre o polegar e o indicador e fez deslizar lentamente, sentindo a vibração produzida pelo cursor que ia partindo o trilho. Uma vez aberto, fechou os olhos, levantou a tampa devagar e ficou quase um minuto inteiro apenas sentindo o aroma que subia das roupas usadas, uma Vogue, um vinho e alguns souvenires. Ainda sem ver, pousou as mãos na superfície, fazendo se afundarem, e foi apalpando os tecidos; esfregando-os nas mãos. Então abriu os olhos e começou a tirar as peças, uma a uma, colocando-as na cama. Começou com as roupas e acabou nas lembranças de Santiago de Compostela. Num canto, uma tira de fotografias dessas de cabine, chamou-lhe a atenção. Era parte do ritual jamais saber a quem pertenceram as malas, mas a curiosidade não lhe permitiu sequer pensar sobre isso… De todas as malas que havia furtado na esteira do aeroporto, era a única que nunca quis encontrar.


Escrito em 25 de dezembro de 2013