O dia em que Eliza Samudio matou Bruno, o goleiro

A velocidade da informação assusta. A importância dessas informações assusta. É caso de precisar ler o jornal, folhear a revista, decantar manchetes de portais na internet. Tudo é exigência pra “estar por dentro”. Tudo é palavra. Tudo é letra, na massiva maioria das vezes, machucada. Letra escolhida a dedo pra chocar. Fonte alta e gorda escorrendo sangue.

O mundo primeiro é achatado, depois redondo, e agora não tem formato. Somos unidades de informação em profunda gestação. O cloud computing é uma realidade absurdamente clara. Qualquer coisa tem maior valor na “nuvem” da internet do que na calçada de Wall Street. Vivemos a transição dos fatores, a reorganização dos valores. Somos o arquitetado trans-humano. Uma velocidade que, no alto de nosso cyborguismo, não conseguimos acompanhar.

E Bruno aparece para nos salvar. Celular, tablet PC, tv digital, GPS. E Bruno, o príncipe boçal, apresenta sua arca. Mesmo com toda insensibilidade que caracteriza a robótica expressão contemporânea, arrancamos alguns exemplares ainda fundamentalmente humanos. E Bruno é a mais nova espécie dos hominídeos capturada. Ele representa a essência do homo sapiens sapiens intacta. É, com certeza, a descoberta mais fascinante da “ciência” atual.

Sua arca, que tem macarrão, bola, e outros objetos sem muito valor, vem para nos dar aulas de humanidade quando já começávamos a esquecer Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Vem com lições importantíssimas para momentos em que o metrô se transforma em lugar perigoso, não pela engenharia mecânica, mas pela frequência humana. Surge num momento crucial em que de fato estamos nos distanciando de nosso semelhante, enclausurados em nosso avatar.

Bruno é um misto de culto e culpa. Ao mesmo tempo em que ele sensibiliza as tardes improdutivas da dona de casa, também revela nosso maior podre: somos humanos… ainda.