Partido artista

Ontem à noite fui aninhado para o centro de uma discussão que escolhi me retirar tardiamente, pois o amargo dentro de mim ficou e eu não disse nada. Um senhor de cabelo branco e testa alongada exortava dois pobres adolescentes fantasiados de CDF’s, – desses que, sem usar roupa de marinheiro, assemelham-se demais com o Kiko, escada do Chaves – sobre a China oculta no governo da Dilma. Fiquei tão triste que quase vomitei.

Ele disse algo sobre cerca de 400 alterações na constituição brasileira do qual o governo do PT tem em seu plano. Nitidamente espumoso, o prolixo desandou a falar sobre as atrocidades que Dilma fez enquanto guerrilheira armada e sobre sua fama de atirar antes de interrogar. Falava com uma convicção perniciosa e até certo ponto, psicótica.

Obviamente, esse arauto dos engomadinhos protegidos nas escolas particulares, não apresentava nenhuma prova. E a grande parte do que ouvi, posto que exerci o direito de me retirar, era subjetivo e travestido de ódio. Tivera ele sido torturado por alguma guerrilha amadora do interior? Ou era daquelas crianças que esperavam o pai chegar pro jantar mas ele se atrasava num barzinho comunista, sempre mais poético, forçando-o a consolar sua mãe?

Em dado momento, um dos adolescentes perguntou, incauto: “O que o Sr achou da ditadura?”. E foi a faísca para o homem quase enfartar. Dentre tantas atrocidades que desferiu, a mais grosseira foi claramente essa: “Eu preferia aquela ditadura, em que ia dormir em paz, a essa que Lula trouxe pra nós, cheia de bandido na rua”.

Diante disso, preferi me retirar e me concentrar no que podia fazer para que semente tão vil não floresça. E escolhi escrever aqui, pois é o lugar mais democrático entre os menos democráticos da nossa nova ditadura; a social.

Toda a bestialidade do velho me serviu para identificar a nova censura, e ela é social, não política.

A chance de qualquer pessoa alterar os rumos de um pais com a dimensão continental do Brasil é nula. A Sociedade da Informação é infinitamente superior à qualquer grupo político, mesmo que liderado pelo Pink e Cérebro. A queda do Quarto Poder como instituição, para dar lugar às redes horizontais, pode até levar a humanidade para o caos, mas um caos gostoso que ela escolheu viver, e não meia dúzia de homens reunidos em “assembleia”.

Logo, se existe uma ditadura, ela não está e nunca se frutificará nas alcovas da política. Ela está na Sociedade da Informação e se alimenta de seus elementos gestores: o cinema, a moda, a literatura e a música.

Queriam um mundo governado por artistas, e não políticos. Conseguimos! Portanto, não importa em quem você votar neste domingo, ambos são do mesmo partido: os derrotados.

PS: Não voto em PT, tampouco em PSDB.