Toda vez que tem doce em casa
, a colher limpa acaba.
A linha acaba.
A frase acaba
, o ponto é reto e a curva fala.
Tenho pra mim que experimento um dos mais belos e últimos espaços da instituição Família. Digo da cozinha que promove encontros e reforça laços; a tia lavando pratos enquanto a cunhada enxuga e um irmão abusado debruça num balcão pra semear conversa fiada. Pois são as conversas fiadas que fiam o aconchego.
Os pratos principais e guarnições foram terceirizados pelos restaurantes, frutas se comem com faca, já as sobremesas são coisas de qualquer hora e ficaram a cargo das confeitarias. A caso da Família estar vencida por uma emergência social, os caminhos ficaram sem volta e os problemas perderam o colo de mãe.
Como primeira censura do ser humano, os cantos vão se arredondando sob a força do amor. Assim, filhos rompem paradigmas e constroem lugares antes inacessíveis. E isso enlouquece os tutores vitimados pelas novas velocidades, novos sabores e novos ambientes. O espaço da Casa não se vincula diretamente ao tempo de Família. A Casa é lugar de encontros cada vez mais insossos e menos frequentes.
Explorei todos os cantos da minha casa. Escolhi o banheiro pra pensar sentado no chão, a sala de estar pra deitar no sofá e irritar minha mãe, a sacada pra observar os outros, o quintal pra ver o céu noturno, a garagem pra proibir e a cozinha pra conversar. E na cozinha me encontro com minha censura, com minha pia suja.