teatro trágico

A política é uma das ciências mais belas dentre tantas que inventamos pra facilitar discussão, conhecimento e, consequentemente, transformações evolutivas; com um diferencial fascinante que é a devoção com que seus praticantes exalam à flor da pele. O mais cômico nos caminhos da “arte de governar” é o universo intricado visível, e por vezes enigmático; é hilário o modo como os conhecedores e cientistas da política geralmente não a elevam a status de tamanha devoção, praticando-a como representantes do poder público.Vemos e ouvimos estudiosos da política às pencas o tempo todo: analisam as crises diplomáticas na América do Sul, a CPI do apagão aéreo, as freqüentes cassadas, criticam a troca dos ministérios, a visita do imperialista americano, o programa social populista do presidente, o bolsa escola, família, filho e parente. Tem espaço pra todos, e assunto é o que não falta.Agora quando aparecem aqueles políticos fracassados, vendedores de fruta passada, analisando a problemática política do país e interrompendo a programação normal da televisão… Ah! Aí é de matar!Mas o ponto, e intrigante, é o fato desses cientistas da “arte de articular” não optarem por praticá-la desempenhando funções públicas legislativas ou executivas que seja… E nesse momento com luzes fracas e misteriosas no tablado do Palácio do Planalto, tensão nas coxias parlamentares, silêncio nas poltronas do Congresso Nacional, ansiedade na cabine de som e luz do Senado Federal e alguns ruídos de pipoca anunciando diversão surge o ator principal, que alguns preferem denominar oportunista.Ele faz a vez de todos aqueles que conhecedores do monólogo preferiram não atuar.Ele faz a vez de todos aqueles que estudaram a peça toda e consideraram-na sórdida, complexa e onerosa. Adrenalina demais!Mas lá está ele, contrariando todos os prognósticos e incinerando todas as críticas. Lá está ele exposto, brilhando, sozinho no palco, mas brilhando. Nos mandos e desmandos ele faz a ação parecer fácil, nas entradas e saídas da República ele inspira muita gente a atuar, nos vetos e sanções ele instiga a platéia, legislando ele comove multidões. O “oportunista” domina a “arte de conquistar, manter e exercer o poder”, às vezes o vemos gaguejando alguma fala, mas no final sempre sai soberano do palco e disposto a voltar mais vezes, continuar atuando, mesmo porque a platéia não é tão observadora assim!Certa vez ouvi um desses dizendo dentro de si:– Esse é o público perfeito pra atuar, por mais que você dê um deslize ou outro ele sempre vai ser tolerante, sensato, eu diria até sensível! Eles sempre vão lembrar dos bons momentos do espetáculo… é fascinante como eles esquecem com facilidade as gaguejadas que por ventura você venha a dar… o que é raro no meu caso porque no meu governo…Nesse momento eu preferi deixá-lo falando sozinho. Eu já havia despendido confetes demais pra quem não vive sem eles. Afinal ele foi lá, fez, aconteceu, e saiu glamoroso. Ao contrário de muita gente que, ciente dos entraves do texto e reentrâncias do ato, preferiu assistir pra criticar no telejornal popular e medíocre da noite.Ele encontrou a brecha perfeita e a fatia mais excitante do universo político, não a de fazer política pois “afinal o homem é um animal político”, mas a de ser. E nessa de ser político freqüentemente se expõe a preço de barganhar cargos, secretarias e ministérios; “vender” promessas; omitir projetos; manipular opiniões; articular decisões; basicamente trair ideais…Sempre achei que sabedoria era antônimo de ser político, mas a política é uma sabedoria adquirida.E que venha a sexóloga no Ministério do Turismo!!!