Há muitas ilações possíveis e precisamos ter cautela ao exercitar nosso olhar sobre esse assunto.
Provoco: É normal pagarmos R$300 em uma camisa?
Alguma coisa muito errada está rolando quando um produto vai à vitrine por esse preço. E o que dizer do biquíni por R$650? E como defender o sapatinho de bebe por R$90? E o relógio por R$40.000?!
É óbvio que…
… estamos comprando etiquetas e pagando pelo absurdo que investem em publicidade ao redor do mundo, ou pelo absurdo que investem em estratégias geniais de talentos, é tudo isso com o singelo propósito de conectar um determinado grupo de pessoas em uma linguagem comum, agora, ao funk. Sim, aquela cultura musical ascendente de ostentação do que não podiam ter. Há uma cultura de admiração do escasso que não é de agora e todos sabem.
Mas cadeias produtivas gigantescas usam a ciência da logística e um princípio básico e sórdido do capitalismo; compram em larga escala. Algumas holdings têm fornecedores dedicados, e não escravizam, apenas têm alta performance produtiva.
Tente fazer 1 lápis para descobrir que vai lhe custar algo em torno de R$30, mas você consegue comprar em qualquer bazar por menos de R$1, e ninguém diz que a Faber Castell escraviza mão de obra famélica.
É só isso, simples assim. Agora tente fazer um biquíni!
E duas cuecas, uma clara e outra escura
Outro fator completamente adverso e absolutamente genial do ponto de vista comercial é a Libra do Produto, ou seja, baixar o preço de uma peça atingindo seu valor de custo a fim de fisgar o consumista que não sairá da loja sem outra calça para encalhar no guarda-roupa; um par de meia descartável; e duas cuecas, uma clara e a outra escura.
É fato que brincalhões como o Sr Ortega, um dos homens mais ricos do mundo, precisaram de muita vigília internacional, tal a sedução que o mercado sujo tem poder de produzir, mas daí a descartarmos todos os princípios que alimentam o “admirável capitalismo” é um exagero.
O que fazer, então?
O desafio é socioeconômico e bem definido. Ele traz em seu lombo carcomido o tumor maligno intrínseco ao capitalismo: Vivemos a Sociedade das Coisas. São as coisas por elas mesmas e com seus irônicos valores sutis, voláteis e frívolos. Ou a Apple não teria que fazer o iPhone 7.
Nessa essência, o estado humano é um lampejo de consciência esporádica e cada vez mais rara. Vivemos basicamente para o produto e não para nós. Possuímos por possuir e não por necessidade. É assim que agonizamos a experiência da vida, respirando por aparelhos numa UTI com ilusionistas costuradores de soluções para “necessidades” que você não sabia que tinha.
Dessa forma, é mais perceptível a venda da camisa por R$300 que a venda do chapéu de palha para proteger dos raios ultravioletas. Afinal, ainda compramos por comprar, não por precisarmos.
E na contramão disso tudo, em curva ascendente mas imprevisível, vem a economia compartilhada em que figuram, principalmente, expoentes da tecnologia como o Uber, o ZazCar, o Airbnb, etc.. Já a moda é tão pessoal que a cultura de brechó não emplaca nem com lobby branco de famosos.
E como cada história tem pelo menos duas versões distintas, quando formos brindados pelo lampejo de consciência humana teremos 50% de chance de tomarmos partido errado.