Sabe aquela sensação de posse que te insulta quando alguém pede uma informação que você batalhou para conhecer? Pois é nessa coisa de valorizarmos nossos grupos, nossas memórias e nossos brasões, que exercitamos a pior faceta da tutela: o egoísmo.
Um exemplo de péssima administração cultural é o Turismo que, na maioria das vezes, revela-se como um território de ninguém e cheio de oportunidades. Porém, dos grandes problemas nos destinos turísticos está exatamente a criação de um universo paralelo ambientado para os outros, enquanto a população do pólo receptor fica à margem, defendendo-se dos “invasores”, pois geralmente não são incluídos no processo. São “ninguém”.
Pensar duas cidades dentro de uma é contradizer o próprio Turismo. Talvez por uma imaturidade contemporânea, Itu fez isso.
O Berço da República parece uma criança que
, na década de 1970 e principalmente às custas do trabalho de Francisco Flaviano de Almeida, o Simplício, percebeu ter um brinquedo que ninguém tinha. E assim a super proteção dos egoístas no playground concebeu um novo comportamento no povo, e foi na periferia que os ituanos encontraram uma cidade. Nas calçadas sem censura. Nas vielas dos pares.
Hoje, com exceção de algumas ruas, na maioria das esquinas do centro eles se revelam órfãos, têm medo de entrar no Museu Republicano e vergonha de ler um livro sem pressa no Espaço Cultural Almeida Júnior. Eles não ficam à vontade em um restaurante da cidade e grande parte nunca foi ao Parque do Varvito. Vêem uma grande bobagem na “história das coisas grandes”, acham que a Fazenda do Chocolate cobra entrada e que os campings são lugares apenas pra passar um dia e depois ir dormir em casa.
Quando frequentam as igrejas do circuito “Roma Brasileira” não conseguem entender a intrigante proximidade das igrejas católicas no único traçado de ruas do século XVIII pra contar história. Eles não fazem parte dessa história.
Além de micro-ações, a cidade precisa de um projeto maior, que toca naquilo que é mais sensível em um povo. Itu precisa de orgulho. Daquele orgulho que temos em compartilhar as nossas coisas. Precisa de um portal turístico funcional e acessos viários pomposos em todas as entradas da cidade, belos espaços públicos de convivência, eventos de interesse integrativo e, principalmente, de ações que envolvam a comunidade como um pai que convida os filhos pra “contar vantagem”. Ações que acolham escolas, grupos religiosos, sindicatos, associações de bairro e outras entidades representativas. Ações de construção, não só de idealizações. Ações de colocar as mãos na massa. Itu precisa sair do arroto aristocrata e construir um idioma próprio.
Itu precisa daqueles tapumes em obras públicas para quando, reveladas, surpreenderem os próprios ituanos, antes de qualquer coisa.
Corram que ainda é tempo! Eles estão lá embaixo do orelhão afrontando os turistas, reafirmando seu território e zombando dos “trouxas que vêm ver as coisas grandes”.
*Originalmente publicado na revista acadêmica Interativa.