Colocaram o martelo na mão da criança; o que o ChatGPT não pode fazer por você?

Não perca tempo lendo este artigo sobre o ChatGPT ser uma ferramenta que responde perguntas sobre sua marca sem o seu conhecimento ou consentimento.

ALERTA DE SPOILER: Com esse spoiler você não precisará ler o artigo todo e continuará preservando a persona superficial que a indústria da tecnologia está alimentando, habilitada para comentar sobre mais um assunto no churrasco como se fosse especialista.

O spoiler: Se você não produzir e não gerenciar conteúdos sobre você, a Inteligência Artificial (IA) buscará o que existe sobre, e pode não ser bom. Ou seja, assuma o controle sobre sua marca!

Então vamos começar? Sempre que o tema for “tecnologia” será inútil construir soluções operacionais prontas para cada ferramenta, pois a própria indústria da inovação se nutre da supressão de tecnologias, explorando terrenos inabitados e, muitas vezes, abrindo mão de bons negócios em favor de criar o futuro, como já escreveram Christensen e Bower em 1995 quando criaram o termo “tecnologia disruptiva”. Você deveria pensar o mesmo para o seu negócio; se quer navegar num oceano azul ou ser rêmora? Você pode exercitar a reflexão se quer continuar brigando com sua concorrência ou criar a próxima tendência de um determinado serviço, produto, comportamento, etc..

Também será inglório você tentar se adaptar ao que está acontecendo agora pois, por aqui, estamos vivendo o “mundo líquido” diagnosticado por Zygmunt Bauman no início do século XXI, na qual a incerteza e a insegurança são os ingredientes protagonistas. Mas também não precisa ficar doente e cair no pântano que já financia as profissões mais quentes do momento e do futuro, ligadas ao corpo e mente sãs. Cogite pensar estrategicamente.

Até recentemente, por exemplo, quando alguém queria saber qualquer coisa, “dava um Google”. Isso significava ir até a plataforma do maior buscador da internet e digitar a pergunta na caixa de pesquisa que, por sua vez, foi inspirada numa biblioteca.

O Google queria organizar todas as informações possíveis, dominá-las e entregá-las, a quem digitasse ali na caixinha com a lupa, exatamente o que a pessoa procurou, como se fosse um bibliotecário indo até as imensas prateleiras da poética livraria encontrar o livro que você citou só o resumo. Trabalho árduo que, tal como o bibliotecário, também deve deixar de existir.

Quando a OpenAI lançou o ChatGPT em novembro de 2022, já saiu fazendo barulho, afinal era um “modelo de linguagem natural” já conhecido no Vale do Silício por suas versões anteriores e que estava chegando muito mais poderoso. Sua interface simples, tal como o Facebook quando começou, viralizou rapidamente e no início de 2023 ele já tinha mais de 100 milhões de usuários. O foco nunca foi design; sempre foi solucionar rápido e cortando caminhos para seduzir as mesmas pessoas que se bastaram com o spoiler do início deste artigo, ou seja, todos nós.

Mas o que a OpenAI criou, fundamentalmente, de novo? NADA! Na essência, o ChatGPT responde perguntas pesquisando dados e escrevendo para você. Exercitando este reducionismo é possível entender que a disrupção não está no comportamento, mas sim na tecnologia.

Como as ferramentas de buscas substituíram as bibliotecas, também as ferramentas assistentes de IA devem substituir o Google. Porém, a informação continua sendo a commodity. E isso interessa para você administrar seu negócio.

Quer uma “novidade”? O buscador You.com foi criado em 2020 e no ano seguinte levantou US$ 20 milhões para continuar construindo o túmulo do Google. Agora já estão falando em um valuation de US$ 6 bilhões e, recentemente, lançou seu YouChat, que nada mais é do que o resultado da soma ChatGPT+Google. Resumindo, ele responde suas perguntas, mostra fontes e ainda promete privacidade.

Percebes que, independentemente do meio, você continua precisando consultar alguém para confirmar, conhecer ou explorar um fato? Portanto, o que importa de verdade é escrever o livro, redigir a história e dominar a narrativa. Nesse ponto, já passou da hora de você acordar para a importância de ter mais sobre sua marca disponível na biblioteca, se não o “bibliotecário” de IA vai sair procurando e informando os usuários dele o que encontrar sobre você… E pode ser que a resposta não lhe agrade.

Experimente entrar no ChatGPT e pedir para ele te contar quem é sua marca, o que ela faz e qual a importância dela para a sociedade.

Daí entra em questão a variável da equação que você não controla: a pessoa interagindo com a IA. Pois é, você não deveria gastar sua energia tentando fazer as pessoas pensarem como você; será inútil, inglório e imbecil. Você deveria investir seu tempo em aceitar a modernidade líquida e se adaptar para a realidade imposta.

Muitas pessoas, inclusive, têm medo da IA ocupar seus lugares, como se não entendessem que se trata de uma ferramenta. Só isso. E que se não souber usar, inclusive, dá muito errado. É só você lembrar da SIRI, do “Ok, Google!”, e por aí vai. Note que quase ninguém usa pois são ineficientes, complexos e não conseguem entender ironia, por exemplo. Os chatbots, de qualquer modo, tal como o ChatGPT e o YouChat, são tão somente assistentes virtuais para as pessoas. Nada além disso.

Vejo oportunistas já surfando a trend e oferecendo cursos para usar o ChatGPT. Mas será que é possível ensinar a fazer perguntas? E nesse segmento, a expressão correta é “prompt”. Ou seja, será que as pessoas sabem digitar o “prompt” correto para ter a resposta correta?

Ou estaríamos aqui falando de disfunção cognitiva, deficiência ortográfica, ineficiência argumentativa, anemia interpretativa, etc.? É o equivalente a dizer que dar uma ferramenta perfeita para uma pessoa desabilitada não surtirá o efeito esperado. Quem deixa martelo na mão de criança? O que essa criança poderia fazer com o meio em que ela está, com as pessoas à sua volta e consigo mesma, é incalculável. Vejo simetria aqui, hein!

Sendo assim, pode esperar a próxima versão do ChatGPT já aceitando perguntas com áudio e respondendo com uma voz “humanizada”… NADA DE NOVO, pois continuará com os mesmos desafios de “prompt”. Mas, devaneios à parte, podem se popularizar exponencialmente sim e já é um fato. Muitas pessoas têm trocado os diálogos com o Google, que responde mostrando sites para você clicar se quiser saber mais, por diálogos diretos e solucionadores com um chatbot que conversa.

Então, vamos trabalhar com essa realidade? As pessoas, de modo geral e em sua maioria, farão perguntas simples sobre sua marca.

Você tem escrito sobre ela? Não? O ChatGPT não pode fazer isso por você.

Você tem escrito sobre ela? Não? Então corre, pois colocaram o martelo na mão da criança.